Clara Nunes, 12 de agosto de 1942
(Cedro da Cachoeira/MG) — 02 de abril de 1983 (Rio de Janeiro/RJ), é
considerada uma das maiores cantoras do Brasil.
Clara Francisca Gonçalves
Pinheiro nasceu em família humilde no interior de Minas Gerais, em Cedro da
Cachoeira, à época, distrito pertencente ao município de Paraopeba e depois
emancipado com o nome de Caetanópolis.
Trabalhava numa fábrica de
tecidos quando participou, em 1960, do concurso A Voz de Ouro ABC, vencendo a
etapa mineira e ficando em terceiro lugar na final, em São Paulo. Essa vitória
lhe abriu as portas da rádio e da TV na capital mineira. Neste período também
se apresentava nas casas noturnas de Belo Horizonte, onde viveu até 1965 quando
se mudou para a cidade do Rio de Janeiro.
Ainda em 1965 foi contratada pela
gravadora Odeon – onde permaneceu por toda sua carreira – e começou a gravar o
seu primeiro LP, lançado em 1966. Sob imposição da indústria começou como
cantora romântica cantando boleros e sambas-canções, e seu LP de estréia “A Voz
Adorável de Clara Nunes”, embora bem elaborado, resultou num grande fracasso
comercial, ficando esquecido, para satisfação de sua intérprete (como a própria
Clara chegou a dizer).
Gravou em 1968 o seu segundo LP
“Você Passa Eu Acho Graça”, cuja faixa-título, de Ataulfo Alves e Carlos
Imperial, se tornou o seu primeiro grande êxito radiofônico. Com o sucesso
deste disco a cantora se liberta do estilo indesejado e se aproxima do samba
que a consagraria na década seguinte.
Ganhou relevância no cenário
musical brasileiro em 1971 ao lançar o LP “Clara Nunes”, primeiro dos quatro
produzidos pelo radialista Adelzon Alves. A partir de então, assume estética
áudio-visual de cantora essencialmente brasileira, agrega outros ritmos
populares ao seu repertório e começa a fazer história, inclusive se destacando
como a primeira cantora a gravar sambas-enredo.
Em 1974 com o LP “Alvorecer”,
obteve grande sucesso com “Conto de Areia” (Romildo S. Bastos/Toninho
Nascimento), alcançou índices recordes de vendagem, chegando a quinhentas mil
cópias – feito nunca antes realizado por uma cantora no Brasil – e rompendo com
o tabu de que mulher não vendia discos. Seu sucesso estimulou outras gravadoras
a investir em novas cantoras de samba como Alcione e Beth Carvalho – com as
quais formou a tríade chamada “ABC do Samba” – e deu visibilidade às sambistas
veteranas, como Dona Ivone Lara e Clementina de Jesus. Os discos que se
seguiram a transformaram na maior intérprete de samba de todos os tempos.
Em 1975 casou-se com o poeta e
letrista Paulo César Pinheiro – de quem gravou diversas composições, se
consagrando uma de suas principais intérpretes – e lançou o LP “Claridade”
vendendo ainda mais que o anterior, e que hoje é considerado um dos álbuns mais
importantes da história do samba.
Clara Nunes tem em seu acervo
mais de dezoito discos de ouro. Seu LP mais vendido foi “Brasil Mestiço” de
1980, que ultrapassou a marca de 1 milhão de cópias vendidas. Por ele, a
cantora foi premiada com o celebrado, e hoje extinto, Troféu Roquette Pinto.
Brilhou nos palcos em shows
inesquecíveis, entre outros: “Poeta, Moça e Violão” em 1973 com Toquinho e
Vinicius de Moraes; “Brasileiro Profissão Esperança”, segunda montagem em 1974,
com Paulo Gracindo e direção de Bibi Ferreira que novamente a dirigiu no show
“Clara Mestiça” em 1981. Em 1977 inaugurou no Rio de Janeiro o Teatro Clara
Nunes, de sua propriedade. Fato até então inédito para uma cantora brasileira.
Alguns de seus grandes sucessos:
Você Passa Eu Acho Graça, Ê Baiana, Misticismo da África ao Brasil, Ilu Ayê
(Terra da Vida), Tristeza Pé no Chão, Conto de Areia, Menino Deus, Macunaíma, O
Mar Serenou, A Deusa dos Orixás, Canto das Três Raças, Lama, As Forças da
Natureza, Coração Leviano, Guerreira, Na Linha do Mar, Feira de Mangaio, Morena
de Angola, Sem Companhia, Portela na Avenida, Nação, Serrinha, Ijexá (Filhos de
Gandhi), entre outros.
Morreu na Clínica São Vicente no
Rio de Janeiro, na madrugada do dia 02 de abril de 1983, aos 40 anos de idade,
depois de 28 dias em agonia. Internara-se para uma aparentemente simples
operação de varizes. Mas complicações resultaram no choque anafilático que a
levou a óbito. Para muitos, e durante muitos anos, isso foi atribuído a erro
médico.
Seu corpo foi velado na quadra da
Escola de Samba Portela – uma de suas paixões – e sepultado no Cemitério São
João Batista, em meio a muita emoção de fãs, artistas e parentes.
Sua morte, ainda hoje, é cercada
de algum mistério.
Sua obra foi editada em CD em
1997 e reeditada em 2004, permanecendo catalogada.
Sempre lembrada com muito
carinho, atualmente Clara Nunes é uma das quatro principais escolas a
influenciar novas vozes na cena musical brasileira.
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